quarta-feira, 8 de junho de 2011

Afinal, o que é o amor?

O amor é entendido por alguns como um “resto”, aquilo que sobra, do instinto de sobrevivência da espécie humana. Seria algo que estaria presente, como um efeito colateral, no sentido de garantir a aproximação entre os homens, primeiro com o objetivo de garantir o acasalamento e, depois, com o cuidado da prole.

Se procurarmos ir além dessa visão fisicalista que nos aproxima dos animais, porém, poderemos constatar que o amor é precisamente aquilo que nos separa dos demais animais e pode nos conferir um status de ser humano. O amor é responsável por comportamentos incompreensíveis para uma visão de homem como um organismo determinado geneticamente. Por amor, as pessoas são capazes dos maiores sacrifícios pessoais em benefício de outra pessoa ou mesmo em benefício de um ideal. Podemos ressaltar aqui a capacidade de o homem ir muito além do instinto de sobrevivência quando dedica suas ações no mundo em proveito de uma idéia, de uma entidade abstrata que não confere, em nenhum momento, uma vantagem para a manutenção da espécie humana, sendo, algumas vezes, mesmo contrária a manutenção da vida. Podemos pensar, por exemplo, nos mártires cristãos que por amor a um ideal ofereciam sua própria vida em sacrifício, ou ainda em Sócrates que recusa o exílio, entendido aí como morte de suas idéias e prefere tomar o veneno sicuta, morte de seu corpo.

O amor também não deve ser confundido com o amor erótico, Eros, somente. Ele foge a compreensão científica e filosófica e pode ser encontrado, em alguns de seus aspectos, na arte, seja na poesia ou na música, mas nunca de forma completa. Amor é estar no mundo, ação, interação, não possui categoria, é amplo, inclui, traz para si e dá de si ao mesmo tempo. Desse modo, amor não pode ser definido conceitualmente, ele simplesmente é.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Perguntas

Pra onde você foi?
Por que está tão longe assim?
Quando poderei te encontrar?
Por que não posso ir a esse lugar?
Você não ia conhecer a Bahia primeiro?
Como cabe tanto sentimento assim?
Onde se escondia o amor todo esse tempo?
Será que eu já sabia?
Você sempre soube, não é?

Agora eu descubro tudo,
Já que você se escondeu,
Meu amor,
Ele finalmente floresceu.

terça-feira, 26 de abril de 2011

A flor e o guarda-chuva

Manhã chuvosa no Rio. Ontem tempestade, enchente, deslizamento. Hoje, festival de guarda-chuvas perdidos. Onde ficou meu guarda-chuva? Ontem esqueci aqui, tenho certeza! Volto aos locais suspeitos, no trabalho, em casa, será que esqueci no ônibus? Perdi. Está perdido mesmo! Meu guarda-chuva foi parar no buraco negro dos guarda-chuvas... O buraco negro dos guarda-chuvas é aquele lugar em que todos os guarda-chuvas se reúnem quando são esquecidos em um momento de distração dos seus donos. Guarda-chuvas coloridos, de bolinha amarela, com rosto de anjo, e, é claro, aquele horroroso todo preto, todos eles se encontram nesse lugar misterioso, esperando ansiosamente seu destino final. Encontrariam esses guarda-chuvas novos donos? Como é bom precisar de um guarda-chuva e encontrar um perdido por aí, nos salvando da chuva repentina... Outros, coitados, nunca reencontrarão seus donos, nem mesmo novos donos, seu destino será mesmo a velha e boa lixeira.

Mas ontem, ao contrário da maioria, não perdi um guarda-chuva, perdi uma flor. Quem perde uma flor em dia de chuva? Será que ela caiu desavisada no passeio público, ou alguém pegou deliberadamente a flor enquanto eu estava distraída? Finalmente, onde as flores perdidas vão parar? Sim, eu sei que são muitas perguntas. Acho que seria melhor estudar mais sobre buraco negro...

sábado, 16 de abril de 2011

Bolinho de Amor

Às vezes de manhã cedinho
Sol raiando, nuvens no céu
Eu lembro de você
Lembro do seu carinho, do seu sorriso
Mas lembro mesmo das suas gargalhadas
Do seu olhinho curioso, da sua memória boa
Todos os caminhos saber,
De carro, de trem,
de táxi...

Como você caminha agora?
Táxi, quanto lhe devo?
Não, você não deve nada,
Eu sim, devo
Devo amor
Devo dedicação
Noites em claro
Música antes de dormir,
Os bolinhos de vagem,
cheios de amor e tomates
Você faz bolinhos ainda?
Você pode fazer comida aí?
Só espero mesmo que não seja sopinha!

Domesticando Mulheres

Presenciei ontem um diálogo que me perturbou muito, pois expressa ainda a mentalidade retrógrada de nossa sociedade em relação a mulher. Vou escrever aproximadamente o que aconteceu: caminhava eu com dois amigos quando um deles falou: “olha que absurdo”, rapidamente perguntamos sobre o que se tratava, e, ele respondeu: “a saia que aquela mulher usa, é muito curta, ela não tem nenhum bom senso“  explicou. Enquanto eu procurava a mulher para observar sua saia, o outro logo respondeu: “Há, você ainda se importa com isso? É assim, mesmo, ela só não pode reclamar depois...” Achei estranho e perguntei sobre o que ela não poderia reclamar, ao que prontamente recebi a resposta. Ele se referia a um email que circulou por aí explicando o perfil das mulheres mais propensas a serem violentadas sexualmente, onde dizia que mulheres que “aparentam ser fáceis” seriam mais visadas por esse tipo de criminoso.
Imediatamente pensei, mas é exatamente esse tipo de pensamento que permite que milhares de mulheres sejam agredidas por dia em todo o mundo, essa idéia muito propagada de que a mulher é sempre culpada em crimes sexuais, de que ela provocou, alguns chegam mesmo a falar que ela “pediu” para ser estuprada. Mulheres negras e brancas, mulheres pobres e ricas, mullheres analfabetas e com pós-graduação, sempre mulheres, ainda hoje, em 2010, sendo violentadas por homens conhecidos, desconhecidos, muitas vezes por seus próprios maridos. E muitas dessas mulheres vivem esse sofrimento intenso caladas, com medo, porque a sociedade não as apóia, a sociedade diria, assim como esse meu amigo desavisado, que a culpa da agressão, no fundo, é da mulher.
Historicamente, a humanidade escreveu uma triste história de “domesticação” da mulher, de modo a garantir que ela obedecesse docilmente as vontades de seu pai e depois de seu marido. Para tal, uma série de hábitos e tradições, muitas vezes grotescos e cruéis, foram criados. Uma dessas práticas continua ativa ainda hoje em diversas sociedades: a circuncisão feminina. Os métodos vão desde a retirada do clitóris até, o mais aterrorizador, a retirada também de parte dos pequenos e dos grandes lábios da vulva que posteriormente são costurados de forma rudimentar com algum “instrumento” oferecido pela natureza dos desertos africanos. O que muitos não sabem é que é deixado  um pequeno espaço para que a menina possa urinar e que depois de casada, o marido precisa utilizar uma faca ou navalha para “abrir”, literalmente, a sua esposa. Esse “procedimento” cirúrgico é realizado ao ar livre por “mulheres especiais” que utilizam uma gilete, não esterelizada, como instrumento. As meninas passam pela circuncisão em torno dos 5 anos de idade e nada podem fazer para se defenderem.
Waris Dirie, a ex top model somali que foi mutilada, explica que as meninas que não forem circuncidadas são excluídas de suas sociedades e tratadas como prostitutas. Ela conseguiu fugir de seu país para a Inglaterra e hoje é embaixadora da ONU contra a mutilação feminina. Segundo Waris:
“As coisas estão melhorando, mas não é o suficiente. O que me deixa doente é que os políticos do mundo não levam a questão a sério porque, no fim das contas, é um ‘problema de mulher’, algo relacionado à vagina. Muitos argumentam dizendo que ‘isso é religião’ ou ‘é a cultura dos outros’, quando na verdade é um crime.”
Essa é a questão fundamental para compreendermos porque ainda permitimos tamanha violência contra a mulher: argumentos culturais ou religiosos. É preciso mudar, então, essa “cultura” covarde que afirma coisas do tipo: “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”, o que significa, muitas vezes, deixar que o marido bata em sua mulher no meio da rua, muitas vezes ferindo-a mortalmente, sem que ninguém faça nada. É preciso parar de justificar o número escandaloso de estupros que acontecem diariamente colocando a culpa na roupa que a mulher usa, no seu decote, ou na sua beleza.
Esse é o mesmo argumento utilizado em parte dos países muçulmanos para explicar o uso da burca. A burca, afirmam os defensores, seria uma forma de “proteger” a mulher dos olhares masculinos, ora se o problema está no olhar masculino, não se deveria pensar em fazer alguma coisa sobre isso? Parece muito mais fácil domesticar a mulher, “educá-la” desde pequena para que ela não se defenda quando é ferida, para que ela aprenda a sentir dor calada e para que seja dócil e prendada. A mulher é domesticada quando não permitem que ela estude, que ela ande livremente pelas ruas, ou quando impedem que ela escolha o seu marido. Sim, tudo isso ainda acontece hoje, e não só em países distantes daqui, acontece todos os dias em nossos bairros. Claro que os “modos” são diferentes, mais sutis, velados, mas vivemos nós também em uma cultura que ainda diminui a mulher frente ao homem, e é assim, com pequenos comentários, que alimentamos nossa sociedade a seguir desrespeitando as mulheres.